quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Asnografia

Leio num dicionário " Asnografia: s.f.: diz.se,ironicamente, da descrição de asno"
Pobre asno! Tão bondoso, tão nobre, tão inteligente como és! Ironicamente...Porquê? Nem um descrição séria mereces tu, cuja descrição exacta seria um conto de Pimavera? Se ao homem que é bom deverima chamar asno! Se ao asno que é mau deveriam chamar homem! Ironicamente...De ti, tão intelectual, amigo dos velhos e das crianças, dos regatos e das borboletas, do sol e dos cães, das flores e da lua, paciente e reflexivo, melancólico e amável, Marco Aurélio dos prados...
Platero, que sem dúvida compreende, olha-me fixamente com seus grandes olhos brilhantes, de uma serena firmeza, onde o sol brilha, diminuto e refulgente, num breve e convexo firmamento negro. Ai! Se a sua peluda cabeçorra idílica soubesse que eu lhe faço justiça, que eu sou melhor que esses homens que escrevem Dicionários, quase tão bom como ele!
E escrevi à margem do livro: " Asnografia: s.f.:deve dizer-se com ironia, claro está!, da descrição do homem imbecil que escreve dicionários".

in "Platero e Eu" de Juan Ramón Jiménez, Prémio Nobel de 1956

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